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agosto 26, 2009

Minha posição na mesa redonda do lançamento da Stalker

Reitero (já a tinha defendido em debate com Roberto Causo na livraria Cultura, por ocasião da Neuromancer, Abril, sexta/13 -lembram-se?)minha forma de inserção nesse encontro entre o maisntream e a literatura de gênero que, corajosamente, o Projeto Portal encampa e problematiza, sob a serena loucura de pedra do Nelson de Oliveira:

agosto 24, 2009

Poema "engajado"

(Robert Frost disse: 'Eu nunca escrevo exercícios, mas às vezes faço poemas malogrados e a esses então chamo de exercícios.')
“Pneumotórax”

Acetábulo displásico:
Fêmures dardejando
Bacia pouco acolhedora;
Nem um tango argentino,
Tampouco um cigarrinho amigo
Oferecido na trincheira.

‘Meu pai também tinha?’

Um ilustre destinatário da Stalker



Dr.Antônio Carlos Giampietro examina a Stalker em Feira. Ex diretor clínico do Hospital Psiquiátrico Cândido Ferreira, na ocasião, presidido pela legendário Décio Pinto de Moura, o mestre e amigo Giam, cuja envergadura humanista faz equivaler o, hoje referência em saúde mental - Cândido Ferreira, ao Hospital da Praia Vermelha no RJ, onde a junguiana Nice da Silveira criou o Museu do Inconsciente, com obras artísticas dos internos.Gilles Deleuze: "A Literatura é uma saúde". É.

agosto 19, 2009

"Wharia Avariada"-Conto I da Stalker

“Wharia Avariada”

I

Sempre nos advertia que seu relato não seria nada amigável, mas nada aborrecido, replicávamos. Pegamos nossos rotores e deslizamos em direção ao solário onde, com tamanha transparência e nitidez jamais seríamos notados. Despiu-se.
-“Muito bem, por quê está aqui?”
-“Porque me forçaram.”
-“Sem ironias, isso não é um inquérito. Se cooperar, Task e eu seremos breves. O relatório do Softcare mostra avarias crânio-faciais. Internação voluntária.”
A campânula, toda blindada, reverberou um gemido gutural assustador, depois, silêncio. Tive um pico de pressão e Task crispou seus dedos trêmulos no cabo.
-“Relaxa, rato branco, eu nem comecei, eu nem comecei ainda.” Ria-se.
-“Wharia, podemos interromper e induzi-la à parada crítica. Seu rosto...
-“Meu nome é M’sharia, inpostor, sou paquistanesa de trinta gerações!”
-“Que substância lançaram no rosto, por quê lesaram seu rosto?
- “Porque eu toquei o vergalhão dele com gosto, e ele gostou, ruiu!Ruiu!
Task sussurrou algo, levantou-se e ela o imobilizou com o cabo.Gelei.
-“Agora vou contar tudo, enquanto o rato escuta com todo gosto, não?”
-“Muito bem, não acionei os sensores. Quero escutar sua história, tudo.”


II

Passados uns quatro ciclos, não mais às voltas com pesquisa no Departamento de Cyberantropologia, reenconto Wharia numa das alas do próprio Softcare. Acenou para mim com alguma leveza até, aproximou-se: -“Trabalho aqui, que ironia, não? Sub-coordenadora do grupo de Sexualidade e Robótica de Terceira Geração, cadê seu rato branco?”. Repliquei que fora desativado e se a robótica que estudava não seria a de trigésima geração. Andei catalogando arquivos criptografados sobre o trabalho de um tal Bateson, G. Face à provocação (chequei a suposta origem proto-paquistanesa dela; procedente...) a reação foi inusitada – deu de ombros. Como não me fez advertências desagradáveis, caminhamos juntos pela ala norte e conversamos sobre interface, etc., o que não foi nada aborrecido: “- Como anda a libido dos seus ciborgues?” “-Libidinosa, como a sua, talvez mais matizada”. –“Com as matrizes tão pouco oxidadas que aplicam neles...” – “Está equivocado, muito equivocado, eles referem desejo. Expandimos a memória original. E isso é confidencial, libidinosamente... confidencial, compreende?” Sorriu-me, pela primeira vez. Dei de ombros e ela replicou, ácida: “- Mas que gestuária mais pós-humana, não? Que tal uma bebida gelada? Relaxa, não vai oxidar suas matrizes retrógradas...”. Aceitei, é claro, e mergulhei, gelado, naquele inusitado virtual.


III




“-Achei curioso perguntar do Task, recordar-se dele...”
“-Ele ficou bem assustado com a minha cena, não?”
“-Talvez viajasse nos contornos de suas belas próteses, excitado, talvez.”
“-Mas que conversa solta para um cético, um desplugado, não?”
“Ora, o solário, o meio líquido do cabo. Desejo e medo, você sabe, não?”
“Não me subestime, impostor. Sei que essas cargas não se anulam, daí...”
“Daí você quer conferir, empiricamente, bem solta. Sorriso e prudência!”
“Equivocado, de novo. Já fiz isso, faria de novo. Excitado, impostor?”
“Há algo de memória num vergalhão? Se houver, suponho que haja m...”
Senti ventosas abruptas deslocando-me no espaço, vertigem e dor. Reagi com golpes marciais e ativei as câmeras próximas. Mais um equívoco – Wharia tomou-me se assalto no centro exato de um escotoma – opacidade total, coreografada. Amor..., amortecido pelas fisgadas lancinantes de fratura exposta somada ao odor vaporizado – a
substância gasosa -, ei-la, agindo em meu rosto como agiu no molestador de Wharia...
“-M’sharia, este é o meu nome pós-humano, impostor! E eis seu desejo!”
“-Por quê estou aqui, e não me forçaram? “Pela memória”, replicou-me...

agosto 07, 2009

Cortesia da Portal Stalker-um dos quatro contos meus

Baseado de Assis

Escrevi esse conto para a Stalker, baseado no eixo narrativo de um outro, dos anos 60!Não dos anos sessenta do século passado, é claro;a concepção que norteia o Projeto Portal é plasmada na prospecção, no futuro.Refiro-me ao século retrasado!O título dele - "Segunda Vida" - alude a virtualidades como "Second Life", avatares, errepeges. Futuro. Nem Futuro do Pretérito; Futuro premonitório, no campo da narrativa, da fantasia ficcional. Esculpido a Machado. Machado de Assis.Avancei no tempo para alcançá-lo e cheguei a este, baseado em Assis, o brucho que se defuntava na ficção, e voltava pra contar. O que conto ficou assim:







“Tempo Virtual, Mate Real”




Logo que percebeu como tratavam aquele que o aguardava na recepção disparou a tomar providências. Trataram-no por Senhor e se isso não era um código de segurança, era sinal para acionar dispositivos adicionais de etiqueta, protocolos de natureza diplomática. O Senhor que o aguardava não abriria mão de suas prerrogativas, das armas e brasões que o precediam. Mesmo sabendo da farsa daquele cerimonial.
Apresentou-se cordialmente, sentaram-se. Notou que o Senhor evitava o confronto visual e mantinha certa rigidez nos gestos; que não se apartava de seu caixilho 9.0, atrelado ao pulso, por um cordão metálico incrustado de minúsculos ornamentos verdes. – “Relíquias do auspicioso clã, Senhor? bonita peça!” , gracejou para quebrar a formalidade. Mas o Senhor respondeu que não, que se tratava de material explosivo.
Configurava-se uma situação de risco, agora sim, mas não tinha como apartar-se do ilustre visitante para os expedientes cabíveis; um “com sua licença, volto num instante” soaria como um “vou chamar a segurança”. Enxadristas vibrariam com a perspicácia resoluta daquele mate real já anunciado. A saída exigia compostura e raciocínio antecipatório.Uma varredura seletiva em seu repertório de alternativas afins.
Havia, para ganhar tempo, um recurso muito eficiente quando se tratava de representantes de aristocracias e portadores de mutações genéticas que potencializavam a estima pessoal e a vaidade. –“Esses caixilhos 9.0, Senhor, um grande privilégio prevalecer-se de dispositivos tais que permitam inibir nossos sensores, esses, também de última geração, que detectam roteadores de tempo real. O valor dessa máquina!”.
Afastando as mãos como se contornasse o caixilho, expressão mais relaxada no rosto, Senhor mordeu a isca, não sem antes desferir uma ofensa de natureza institucional: - “Seus sensores têm a vulnerabilidade típica das instâncias censoras, aguçam nosso ímpeto de desafiar, de descobrir as falhas do sistema...” A expressão não era de riso; era um esgar malicioso de quem já conta com os louros. Vitória por mérito...
Cintilava nos olhos de ambos um indelével desejo de astúcia, de reconhecimento meritório de astúcia de um – o Senhor -, que demandava aplausos da platéia entusiasta que julgava ter no outro, e deste outro que exalava um devir de sobrevivência e instigava: -“Em nossas idades-Terra, Senhor, meninos é que somos nessas circunstâncias, ávidos por imaginar proezas dessas engenhocas, ardemos de contentes!”.
Senhor, abrindo o painel do caixilho, exultava: -“E já que explodiremos juntos, mal me contenho em excitar sua imaginação: imagina o recurso que usei para enganar seus sensores”.-“ Não alcanço!”. –“Uma singela máscara de interface na área do relógio.”, e abriu o código fonte, inclinando o corpo para o exato quadrante coberto por uma das câmeras de vigilância. O outro ergueu os braços, solerte; -“Desenvolvedor!”
Ao erguer os braços, porém, a câmera registrou o dedo indicador direito apontando para o alto e o esquerdo para o painel do caixilho que escancarava o hackerismo, agora, detectado e desfeito com recuso tão singelo quanto o concebido pelo desenvolvedor – uma intervenção no relógio do sistema e subsistemas coadjuvantes tornava virtual toda a sequência do tempo transcorrido desde a chegada do Senhor...
Quando, já no final daquela troca de amenidades tecnológicas, algo nefasto apontava para o imponderável da missão do Senhor, este, lacrando seu caixilho, retesou-se e proferiu, solene: -“ Hora do fim, colega!”-“Ora, ora, temos tempo, Senhor, uma câmera flagrou e desabilitou a contagem. Para todos os efeitos, não tivemos este encontro porque o Senhor não entrou aqui. Prefere seu chá com leite, seu avatar gosta?”